Os garotos do PS
Há muito que o PS se encontra refém de uma garotada que tem desmandado o partido. Apesar da imagem positiva que António Costa tem conseguido manter, a dele e do seu governo, o PS não tem seguido a mesma linha, porque continua agrilhoado às más escolhas internas, ao incorrigível caciquismo que tem atrelado uma quantidade considerável de garotos que se encontram em lugares de direcção e decisão política.
A última borrada tem a ver com as declarações de Ana Catarina Mendes sobre as eleições autárquicas, que levaram a candidatura de Rui Moreira, no Porto, a declinar o apoio do PS. Ana Catarina Mendes disse que “todas as vitórias dos candidatos do PS e das listas que o PS integra serão vitórias dos socialistas”. É o que dá colocar a garotada em frente dos microfones e das câmeras.
A declaração em si pode não conter uma afirmação polémica, mas é suficiente para causar desconforto em qualquer candidatura independente que tenha o apoio declarado do PS. Como seria espectável, Rui Moreira aproveitou essa declaração de Ana Catarina Mendes para rejeitar o apoio dos socialistas, algo que ele já tinha muita vontade de fazer mas que precisava de uma razão plausível para não ficar mal visto perante o eleitorado. A dirigente do PS deu-lha de graça. Esta situação até poderia ser uma boa jogada estratégica do PS, caso tivesse acontecido há mais tempo, permitindo ao PS apresentar uma candidatura própria à Câmara do Porto. Agora, tendo acontecido a cinco meses das eleições e depois do PS ter manifestado com pompa e circunstância o seu apoio à candidatura de Rui Moreira, isto não é mais do que uma enorme trapalhada que o PS não tinha necessidade de criar. Mas, como disse logo no início, com tanta garotada a proliferar no partido é muito provável que mais situações como esta venham a acontecer.
Não resta outra alternativa ao PS que não seja apresentar um candidato próprio. Um candidato que ainda não o é, mas que já está derrotado. Convém não esquecer que a distrital socialista do Porto é a maior do partido, sendo que a cidade do Porto é a segunda mais importante do país e que, mesmo assim, o PS não tinha candidato, mas agora vai ter que ter. Manuel Pizarro, líder da distrital, que foi (ainda é) vereador da Câmara Municipal do Porto e fervoroso apoiante de Rui Moreira, tem agora em mãos um problema com que não contava. Por outro lado, Manuel Pizarro tem também uma excelente oportunidade para dar o peito às balas e, na qualidade de líder, o dever de avançar como candidato do PS. Não tem que se preocupar com conflitos de interesses, nem mesmo com eventuais acusações de querer passar a perna ao candidato que apoiou até agora (Rui Moreira), já que foi este que rejeitou o apoio. Portanto, um líder sério e a sério não teria outra atitude que não fosse a de avançar como candidato pelo seu partido. Veremos se Pizarro vai ser um líder "à moda do Porto" ou se vai esconder-se como um ratinho pequenino, escudando-se numa qualquer desculpa esfarrapada.
Contudo, quer Pizarro avance quer empurre outro para a forca, ainda estou para ver que medidas o PS vai apresentar no seu Programa Eleitoral, que já não estejam comtempladas no programa da candidatura de Rui Moreira. Além disso, estou curioso para ver as críticas que os socialistas do Porto vão fazer ao mandato de Rui Moreira, do qual fizeram parte e que tanto elogiaram.