Os “suprema-semitas” e os crápulas da comunicação social
Roger Waters (um dos fundadores dos Pink Floyd) está em Portugal para realizar dois concertos que dão início à digressão europeia de “This Is Not A Drill”. O primeiro já aconteceu, foi ontem à noite, o segundo será esta noite. Portanto, um dos maiores vultos da música mundial está em Portugal a realizar dois concertos e a comunicação social praticamente não aborda o assunto. Os principais blocos noticiários televisivos nem numa nota de rodapé mencionaram o acontecimento. Bem, eu não vi todos os blocos noticiários, mas vi vários, nos principais canais e nenhum deles falou sobre os eventos. Talvez andassem ocupados a cobrir os preparativos para os próximos espectáculos do senhor Antunes – o ladrãozinho de canções que eles adoram branquear.
Brincadeiras à parte, a verdade é que Roger Waters está a ser alvo de uma campanha de cancelamento e censura, por parte da comunicação social. As opiniões de Roger Waters (sejam elas quais forem) não agradam ao poder instituído que comanda e sustenta o bando de crápulas vendidos que, por sua vez, dominam a comunicação social.
A campanha de cancelamento começou há umas semanas, quando as comunidades judaicas (parece que uma só não chega) se insurgiram contra a actuação do antigo membro dos Pink Floyd em Portugal.
A comunidade judaica de Lisboa não gostou da ideia e manifestou-se contra a realização dos dois concertos no Pavilhão Atlântico (mais conhecido por Altice Arena).
A comunidade judaica de Lisboa diz estar “muito desagradada” e acusa o músico inglês de anti-semitismo. No comunicado que emitiram tornaram público “o seu profundo desagrado com a vinda do músico a Portugal, um país que tem sabido evitar dar palco ao extremismo e discurso de ódio”.
Já a comunidade judaica do Porto estranhou que Roger Waters possa actuar numa sala de espectáculos patrocinada pela Altice, que é presidida por um senhor que parece que é de origem israelita. Não sei se é desses sefarditas que receberam a autenticação a troco de uns cobres, mas para o caso também pouco importa. A comunidade judaica do Porto declarou estar muito surpreendida “ao saber que Roger Waters vinha actuar no ‘nosso país’, e ainda mais surpreendidos quando descobrimos que actuará num pavilhão patrocinado por um judeu israelita”. Estranho? Há mais…
O tal senhor que preside ao grupo Altice, um tal de Patrick Drahi (coleccionador de nacionalidades), fez saber – por interposta pessoa - que a empresa “não tem controlo sobre a programação, nem sobre os artistas que lá actuam”. No entanto, acrescentou que “assim que a Altice teve conhecimento da programação, entrou em contacto com os donos da sala de concertos para saber se era possível cancelá-los, mas disseram que era demasiado tarde, já que os bilhetes tinham esgotado”.
Bem, o desvario desta gente é tal, que fica difícil até saber por onde começar a minha crítica. Comecemos pelo essencial, que tem a ver com as apreciações atribuídas ao antigo membro dos Pink Floyd. A comunidade judaica acusa-o de ser “anti-semita, extremista e de propagar discurso de ódio”. Ora, não poderiam ser mais disparatadas e sem qualquer fundamento estas acusações. Roger Waters é um músico que leva décadas de intervenção política e social – através das canções que escreveu, mas não só – onde o discurso de paz e de amor ao próximo são uma constante. Quanto à qualidade de “anti-semita”, bem, essa dá vontade de rir. O problema de alguns israelitas é considerar que aqueles que defendem a libertação e autodeterminação da Palestina são anti-semitas. Roger Waters nunca proferiu qualquer declaração que caiba no âmbito do anti-semitismo, aliás, Roger Waters refere-se ao povo israelita como “irmãos”, tal como o faz em relação a todos os outros povos, por igual. E desafio a comunidade judaica a mostrar alguma declaração que demonstre o alegado anti-semitismo de Waters. Agora, aquilo que Waters faz – com muita veemência – é criticar os governos israelitas. Isso sim, ele tem-no feito com muita frequência. E bem.
Aqueles que são extremistas, fascistas, genocidas e propagadores de ódio e terror são os governos de Israel. É para esses que devem ser direccionadas as críticas da comunidade judaica.
Agora vem a parte cómica das declarações dos judeus que se insurgiram contra a actuação de Roger Waters em Portugal. Reparem, segundo as alegações que remetem para o presidente da Altice, esta empresa – patrocinadora oficial do recinto, ao qual impingiu novo nome – não fazia ideia de que Waters vinha a Portugal actuar na “sua” sala de espectáculos. Quando deu conta, os bilhetes já haviam praticamente esgotado. Mas, notem bem, a Altice ainda tentou cancelar os concertos.
O grande problema aqui parece ser o facto de que existem muitos israelitas que se consideram superiores aos seus semelhantes e, por essa razão consideram que todos aqueles que criticam o poder fascista de extrema-direita em Israel são anti-semitas. Ora, é exactamente isso que Roger Waters tem feito. E se alguns cidadãos israelitas entendem que essa postura é anti-semita, então só podemos concluir que andam por aí muitos “suprema-semitas”.
Portanto, temos um conjunto de “suprema-semitas” que acham que estão acima de qualquer suspeita ou crítica e uma comunicação social que está abaixo dos padrões mínimos de isenção e profissionalismo que a função exige. Curiosamente, neste caso concreto, um dos “suprema-semitas” aqui referido é um controlador e influenciador de boa parte da comunicação social que se faz neste país.
This Is Not A Drill.