Palavras ocas que encantam gente bacoca
Há muito, muito tempo que aqueles que ocupam os lugares com funções governativas, nada mais fazem do que aparecer na comunicação social – onde estão como peixe na água – com discursos absolutamente ocos, desprovidos de qualquer sustentação e sem qualquer manifestação de vontade em resolver os problemas.
Um governante é um profissional a quem lhe são atribuídas funções executivas. É seu dever saber diagnosticar problemas e demonstrar que tem a capacidade para os resolver. É isto que se espera de um governante. Poucas palavras e muita acção.
No entanto, há muitos anos - e agora nota-se ainda mais - que os governantes não passam de meras figuras decorativas. Eles não estão para se chatear com a difícil tarefa de resolver os problemas das pessoas. Não, eles estão lá para se pavonearem constantemente e para receber as rendosas conezias inerentes ao desempenho do cargo.
E depois é vê-los a fazer a figurinha que Ana Paula Martins (ministra da saúde), por exemplo, tem feito. Aparecem em todas as esquinas da prostituída comunicação social a dizer coisas do tipo: “nós compreendemos a frustração dos portugueses”, “os portugueses têm razões para se queixar”, “sabemos a ansiedade que sentem”, “nunca escondi que a resposta que temos dado não tem sido a melhor”, “assumimos que ainda há muito para fazer”, “estamos solidários com as dificuldades dos portugueses”, “nós nem sempre acertamos”, “as coisas levam o seu tempo”, “os portugueses são os melhores do mundo”, entre muitas outras bacoradas que só servem para passar a mão pelo pêlo dos cidadãos e amansá-los bem amansadinhos, até que estes fiquem num estado de entorpecimento mental que os impeça de desenvolver qualquer reacção, qualquer resquício de espírito crítico, perante a total falta de competência, de pudor e de decência, por parte de quem governa.
De um governante espera-se acção, capacidade de decisão, resolução dos problemas e não apenas o discorrer de falinhas mansas, de pretensas solidarizações e palavras impregnadas de falsa comoção. No fundo, o que eles pretendem com toda esta encenação – à qual a comunicação social dá especial cobertura e ênfase – é falar ao coração das pessoas, para colocar a situação no campo das emoções e colher a simpatia dos cidadãos que, não raras vezes, acabam por reagir com um “coitados, eles [os governantes] também não podem fazer milagres”. Quando na realidade, aquilo que eles – os governantes – estão a dizer é: “Eh pá, não nos chateiem. Nós estamos aqui para tratar das nossas vidinhas e não das vossas. Mas como os nossos tachos dependem dos vossos votinhos, da vossa completa alienação da realidade e da vossa quietude, nós vimos aqui encenar umas palavrinhas bonitas que vos falam ao coração”.
Vá lá. Não chateiem os senhores governantes. Eles também são pessoas, de carne e osso, como nós. Não podemos esperar que eles resolvam os "nossos" problemas de um dia para o outro. E esse “um dia atrás do outro” já dura há mais de 50 anos. Oh! Mas eles são tão fofinhos e boas pessoas, não são? Não os chateemos e votemos nos mesmos de sempre. Sabe tão bem ouvir palavras ocas e fofas.