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Para António Costa a Segurança Social é uma coisa do futuro

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Depois de ter trapaceado os pensionistas com o seu pacote de “ajuda” às famílias, António Costa apressou-se a dar seguimento ao cumprimento das suas patranhas, numa tentativa desesperada de cimentar ou seu ludíbrio aos portugueses acerca do saque que acabara de fazer aos pensionistas. Costa tem razões para não renegar este seu especial vício. É que ele tem produzido excelentes efeitos nos seus desígnios pessoais e políticos. Costa já mostrou a sua verdadeira face há muito tempo e, ainda assim, os portugueses entregaram-lhe o poder absoluto numa bandeja. Não admira que ele se sinta tão confortável no exercício da prescrição dos seus ditames.

Mas quando eu achava que Costa iria aproveitar a comoção generalizada do momento - que tanto tem arrebanhado a atenção dos súbditos – para deixar a polémica cair no esquecimento, eis que o Primeiro-ministro, não satisfeito com as suas manobras ilusionistas, volta a falar aos portugueses dizendo que “por muita pancada que leve” não tomará nenhuma decisão que “ponha em causa a sustentabilidade ‘futura’ da Segurança Social”. No fundo, o que ele quis dizer foi algo do tipo: para que no futuro (lá muito prá frente) os pensionistas vejam os seus direitos sociais garantidos, eu vou aproveitar esta superinflação para lhes cortar, imediatamente, nos direitos já adquiridos, até porque a maioria dos pensionistas aufere elevadíssimas reformas. Passos Coelho e a troika não diriam nem fariam melhor.

A afirmação de António Costa é bastante esclarecedora daquilo que ele pensa sobre o papel da Segurança Social e a consideração que tem para com quem trabalhou toda a vida. Para o Primeiro-ministro, a Segurança Social é uma coisa do futuro e é por essa razão que ele não se coíbe em “roubar” os mais frágeis no presente, em nome de uma suposta e sustentável Segurança Social futura que, talvez num futuro muito longínquo possa garantir o apoio social a quem mais dele necessita. Mas isso é só para o futuro, porque do ponto de vista de António Costa, a situação de vida actual não exige uma Segurança Social que cumpra com a sua função já, no presente.

Costa voltou a mentir despudoradamente sobre o facto de não estar a usurpar rendimento aos pensionistas. E a refugiar-se em manobras de semântica primária, quando diz que "em Janeiro de 2024 nenhum pensionista receberá menos do que em Dezembro de 2023". A questão não é a de que em Janeiro de 2024 os pensionistas não vão receber menos do quem em Dezembro 2023, mas sim o facto de que irão receber menos daquilo que deveriam receber, caso o senhor Primeiro-ministro não pusesse em prática esta sua manobra ardilosa, que só tem como objectivo retirar rendimento aos pensionistas. Por outras palavras, António Costa vai reduzir o aumento a que os pensionistas teriam direito. Em bom português, António Costa está a roubar rendimento aos pensionistas.

Mas a questão não se prende apenas com o que vai acontecer a partir de Janeiro de 2024. Já em 2023, os pensionistas irão receber menos daquilo que lhes é devido por lei. Vão receber menos porque António Costa decidiu avançar com um adiantamento correspondente a metade do valor que deveriam receber ao longo do ano de 2023, já no próximo mês de Outubro. Portanto, se considerarmos o valor que os pensionistas vão receber no próximo mês de Outubro mais aquilo que irão receber ao longo do ano de 2023, os pensionistas não irão receber nem mais nem menos do que lhes é devido por lei. Mas, então, onde é que isto constitui uma ajuda aos pensionistas, senhor Primeiro-ministro?

Ao António Costa só falta dizer que o seu governo está a prestar uma enorme ajuda aos pensionistas, porque não lhes está a cortar na pensão com efeitos imediatos. Creio que os pensionistas prefeririam não receber este “bónus” de 50% em Outubro e receber a pensão devida a partir de Janeiro de 2023. E dessa forma teriam uma base de incidência maior para o cálculo do aumento a verificar-se em Janeiro de 2024. E, já agora, receber também os 125 euros que Costa entendeu que eles não têm direito, porque são portugueses de segunda e, acima de tudo, porque são um pesado fardo para a Segurança Social, e por essa razão têm que ser castigados.

É preciso não ter mesmo um pingo de vergonha na cara. Quando é para salvar bancos ou para sustentar guerras a leste, a fonte jorra o que for necessário.

E a comunicação social é complacente, pois não é capaz de questionar o Primeiro-ministro, ou pior ainda, não é capaz de confrontar as suas declarações com a verdade. E muito pior que isso, ainda propagandeia as suas falácias. É assim que se arrebanha maiorias.

Está visto que António Costa não está interessado em encontrar soluções para os problemas actuais e governar no presente. Não, Costa governa para o futuro. É um visionário. O presente não é com ele, excepto o presente envenenado que decidiu ofertar aos pensionistas. 

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