Parlamento ao rubro
Os resultados eleitorais das Legislativas de ontem não apresentam uma correlação de forças muito diferente da verificada em 2015. Contudo, são várias as mudanças desta nova configuração parlamentar que me levam a antever que a coisa, além de mais colorida, vai ficar bem mais engraçada.
Primeiro, importa salientar a vitória do Partido Socialista, que cresceu em toda a linha, mas que não conseguiu atingir a tão desejada maioria absoluta. Assim, ou o PS consegue reeditar a geringonça ou algo muito semelhante, ou então, teremos um Governo que certamente não colherá a estabilidade necessária para durar os 4 anos.
Quanto ao resultado do PSD, verifica-se uma pesada derrota (perdeu 12 deputados) que os laranjas festejaram como se de uma grande vitória se tratasse. Deu para perceber que estavam mesmo à espera de perder por muitos.
O Bloco de Esquerda tem um ligeiro decréscimo, pouco significativo e mantém o número de deputados. Contudo, galvaniza a sua posição de terceira força política.
A CDU sai bastante penalizada. Perde 5 deputados e sai destas eleições como o único partido da geringonça que perdeu com isso. Curioso. Parece que a maioria dos eleitores apreciou a geringonça e deseja a sua reedição mas, simultaneamente, são os pais da geringonça os únicos a perder votos e mandatos.
O CDS cai estrondosamente, perdendo 13 deputados, reduzindo-se à sua verdadeira significância. Volta a ser o “partido do táxi”, bastando que um dos deputados eleitos possua a carteira profissional de taxista para caberem todos no mesmo táxi. Talvez Assunção Cristas se aventure nessa nova profissão, já que vai deixar a liderança do partido.
O PAN quadruplica a representatividade. Passa de 1 para 4 deputados eleitos. Bem podem dizer que foram os grandes vencedores da noite. Recordemos que o PAN não tem uma máquina de comunicação muito profissional e tem tido muito má comunicação social, que lhes tem feito alguma perseguição, sobretudo através do rol de comentadores em tudo que é canal de TV.
Agora, uma palavra sobre os partidos que elegeram pela primeira vez um deputado. O Livre, o Chega e a Iniciativa Liberal.
O Livre atinge um resultado há muito merecido. Conseguiu eleger a futura deputada Joacine Katar Moreira e, a meu ver, até merecia um melhor resultado. Trata-se de gente competente e com ideias interessantes para o país.
O Chega elege André Ventura. Não é uma grande surpresa. Se a comunicação social consegue eleger um Presidente da República, por que razão não iria conseguir eleger um deputado? Apesar de não concordar com praticamente tudo o que diz André Ventura, não me parece que a sua eleição configure um perigo para a Democracia, como muitos afirmam. Pelo contrário, o futuro demonstrará que os receios que alguns atiram para o populismo de André Ventura rapidamente se dissiparão. O Chega é um partido unipessoal, com o único objectivo de dar protagonismo à sua figura de proa e de o catapultar para a ribalta política. O populismo de André Ventura não é genuíno, trata-se de populismo bastardo com objectivos meramente eleitoralistas, mas sem qualquer perigo para a Democracia.
O perigo para a Democracia vem de partidos com o Iniciativa Liberal. Esses sim, são genuínos populistas, com um programa político ultraliberal, com o objectivo cimeiro de destruir o Estado Social. Trata-se de um partido de betos, filhos de papá, altamente impreparados mas muito bem apadrinhados e plantados em sectores estratégicos da sociedade portuguesa e, por isso, com maior probabilidade de se ramificar. Mas ainda bem que conseguiram representatividade, assim, todos poderão ver bem do que se trata.
Só tenho pena que nesta salada de frutas parlamentar não haja lugar para Santana Lopes e Tino de Rans. A sério que tenho pena. Gosto destes dois figurões.