Por qué no te callas, Costa?
O Primeiro-ministro, António Costa, tem vindo a protagonizar algumas das afirmações mais estúpidas, que ficarão registadas para sempre na memória política deste país.
Depois de defender e propor a obrigatoriedade do uso da aplicação StayAway Covid, Costa veio justificar-se dizendo que não aprecia ser autoritário. De facto, ele não gosta nada de impor a sua vontade, apenas aprecia que o obedeçam voluntariamente.
E quando se pensava que a idiotice não poderia atingir um novo recorde, eis que António Costa surpreende toda a gente ao afirmar que considera que “é mais restritivo das liberdades o uso obrigatório da máscara, do que propriamente ter uma aplicação”. Foi ainda mais longe ao afirmar que se sente “limitado” com o uso da máscara. Imaginem como se sentirá o pessoal clínico e não clínico que trabalha no combate à pandemia, com todos aqueles equipamentos de protecção individual, escafandros e sei lá mais o quê. E que quando chegam a suas casas têm que se descalçar à entrada, trocar de roupa, higienizar-se de todas as formas possíveis e imaginárias, e evitar o contacto com os familiares com quem coabitam.
Ó senhor Primeiro-ministro, incomóda-lhe assim tanto usar a máscara? E acha mesmo que o uso obrigatório da máscara é mais restritivo? Não me diga que a máscara lhe faz comichão nos pêlos do nariz? Ou então, que lhe faz transpirar muito do lábio superior.
É óbvio que do ponto de vista da protecção dos direitos, liberdades e garantias, a obrigatoriedade do uso da aplicação é muitíssimo mais restritiva e transgressora. Um Primeiro-ministro - com formação jurídica - que não consegue perceber isto tem um grave problema em mãos, daqueles que não saem com álcool-gel.
É profundamente lamentável e incrivelmente patético que um Primeiro-ministro continue a insistir num assunto que não deveria sequer ser objecto de dúvida. Estabelecer um paralelismo entre a obrigatoriedade do uso da máscara e do uso da aplicação no combate à pandemia é a coisa mais ridícula que se ouviu nos últimos tempos. Desde logo, porque o uso da máscara configura a forma mais eficaz no combate à propagação do vírus, porque nem sempre é possível manter o distanciamento físico. Obviamente que se ficássemos todos confinados em nossas casas, essa seria a forma mais eficaz, mas isso só deve ocorrer quando não há outra alternativa. Já o uso da aplicação não tem impacto significativo na contenção da propagação do vírus.
Chega a ser assustador constatar que uma pessoa com tamanhas responsabilidades políticas ainda não tenha sido capaz de perceber que o uso da aplicação não tem qualquer preponderância no combate à pandemia. É absolutamente inócua.
Ainda mais assustador é verificar o tempo que um Primeiro-ministro perde com estas insignificâncias, quando o SNS continua a caminhar para as linhas vermelhas, quando os lares continuam a viver um pandemónio, as escolas a apresentar novos casos todos os dias (e ainda vamos ficar surpreendidos com a sonegação de informação que existe sobre os casos nas escolas e a falta de testes) e, como ainda constatei neste fim-de-semana, cafés e esplanadas a abarrotar de gente “sem máscara”. Suponho que estavam todos muito bem protegidos pela aplicação StayAway Covid.
O Primeiro-ministro, António Costa, não só parece ter tempo de sobra para se entreter com ridicularias, como ainda fomenta a resistência ao uso da máscara, quando afirma que é algo muito restritivo das liberdades e que o faz sentir muito incomodado. Ao comparar e misturar as duas situações – máscara e aplicação – que estão a léguas de distância no que concerne à sua importância no combate à pandemia, Costa está apenas a dar força a todos quantos se recusam a usar a máscara sempre e, pior que isso, a patrocinar o relaxamento e incumprimento das regras que realmente importam.
É caso para dizer: Por qué no te callas, Costa?