Portugal: um país de gente rica e saudável
Eu julgava que vivia num país onde a esmagadora maioria das pessoas passa por muitas dificuldades. Onde a esmagadora maioria das pessoas é muito mal paga, onde muitos não têm acesso a habitação condigna, onde há muita pobreza energética, onde a maioria dos pensionistas recebe reformas miseráveis, onde os cuidados com a saúde estão cada vez mais negligenciados e de difícil acesso, onde até já se proibiu os cidadãos de acederem – livre e voluntariamente – a um qualquer serviço de urgência.
Mas eu estava enganado. Portugal é um colosso de um país, onde se vive lindamente. A julgar pelas várias sondagens que têm brotado como ervas daninhas em dias de Primavera, a esmagadora maioria dos portugueses considera que o actual governo tem governado de forma razoável, boa ou muito boa.
Perante este cenário, só posso concluir que a maioria dos portugueses é constituída por gente rica e saudável. Gente que não enfrenta nenhuma das dificuldades que eu achava que estariam a afectar a maioria da população.
Ou então, não são ricos nem saudáveis, especialmente no órgão cerebral. E também por essa razão, a esmagadora maioria dos portugueses considera que qualquer que seja o partido a vencer as eleições (e quando dizem “qualquer partido”, apenas se referem a PS ou PSD), este não deve ser impedido de governar. A maioria das pessoas considera que, independentemente da expressão dos resultados, o partido que vencer deve poder governar à vontade, sem impedimentos da oposição. Em nome da estabilidade. Mesmo que tenha colhido menos de 30% dos votos dos portugueses, como o governo actual.
São pessoas que ainda não perceberam como deve funcionar a democracia e que ficam muito chateadas com a realização de eleições. Para essas pessoas, estabilidade significa não ter eleições, significa não ter que se aborrecer com a escolha dos representantes do povo. O que elas querem é que "ponham lá qualquer um, desde que seja do PS ou do PSD", mesmo que seja só com um simples voto.
E, assim sendo, o meu conselho - a essas pessoas - é que não se dêem ao trabalho de ir votar.