Putin fraco, Macron forte
Segundo a comunicação social, o chilique do líder de um grupo paramilitar na Rússia “pôs a nu a fragilidade de Putin”, o achaque de Prigozhin assumiu a proporção de “golpe de estado” em que “a Rússia tremeu e a liderança de Putin foi posta em causa”. “Putin ficou mais vulnerável e fraco”, disseram todos eles em uníssono.
Já em França, a onda de protestos que varreu todo o país durante vários dias foi (e ainda é) noticiada como um “aproveitamento asqueroso por parte de uns marginais que só querem fazer mal à França”, como “protestos de gente insurrecta”, “gente que só conhece a violência”. Segundo a mesma comunicação social, em França, “os protestos e os confrontos são realizados por delinquentes que acham que estão num videojogo”.
Entretanto, Emmanuel Macron já veio apelar à censura nas redes sociais e a comunicação social rejubilou com a ideia e brindou a isso. Macron também prometeu que vai “emmerder” as famílias que tenham jovens delinquentes. Portanto, o habitual manual repressivo da extrema-direita.
Aqui pelas redondezas, até houve um indivíduo que escreveu um relambório sobre este assunto, num texto enorme em que coube tudo excepto o nome “Macron”. Um artigo que teve o devido destaque - como não poderia deixar de ser - em que o seu autor conseguiu dizer tudo e mais alguma coisa sobre as causas e as consequências dos tumultos em França, conseguiu até falar de Marine Le Pen, mas sem nunca ter referido o nome de Emmanuel Macron.
O que dizer de uma comunicação social que se agarra à mais ínfima discordância para atacar os governos e líderes políticos de alguns países, e que depois desvalorizam e branqueiam todas as manifestações de descontentamento verificadas noutros países? E que ainda protegem e promovem - até às últimas consequências – o “bom-nome” daqueles que se encontram no poder. Para a comunicação social ocidental, Emmanuel Macron é um excelente líder, mesmo quando tem milhões de pessoas nas ruas a protestar contra as suas políticas.
A comunicação social ocidental comporta-se da mesma maneira que a comunicação social da Rússia, da China ou da Coreia do Norte. O problema é que são eles próprios – não eu – que dizem que a comunicação social nesses países é uma farsa.