Rangel, Melo e os tachos europeus
Paulo Rangel é o cabeça-de-lista do PSD às eleições para o Parlamento Europeu, já Nuno Melo encabeçará a lista do CDS. Ambos já se encontram em campanha e a principal causa das duas candidaturas, para já, é a provável escolha que o PS fará para encabeçar a sua lista. Ou seja, a sempre indefectível grande causa que estes dois partidos abraçam nas suas campanhas eleitorais – combater o PS.
Mais do que defender as suas ideias e apresentar uma estratégia política, estes dois partidos optam sempre por começar por atacar o PS. E, se ao menos, combatessem as ideias do PS, sempre saberíamos com o que não concordam, o que já não era mau. Mas não. Eles combatem as escolhas do PS. As pessoas do PS. É isso que lhes causa sempre muito incómodo. Neste caso concreto, a pessoa que os constrange sobremaneira é Pedro Marques, o actual Ministro do Planeamento e das Infra-estruturas.
Rangel e Melo falam em "concorrência desleal" na escolha de Pedro Marques, porque sendo Ministro, beneficia da "vantagem de ter andado a fazer campanha pelo país", dizem eles.
A postura de Rangel e Melo esclarece bem o objectivo que os leva a candidatarem-se, ou seja, o único objectivo é serem reeleitos. Ambos olham para o acto de serem eleitos deputados europeus como um fim em si mesmo e não como o início de um período de dedicação à causa europeia e à causa pública. E por acharem que aquilo que realmente importa é ser eleito, para garantir o tacho, acham também que Pedro Marques lhes leva vantagem, por ser Ministro. E por essa razão mostram-se profundamente incomodados, por considerarem que partem em desvantagem em relação à conquista dos tachos europeus. Só por isso.
Mas olhemos bem para a situação. O que está em causa são candidaturas para o Parlamento Europeu, onde Rangel e Melo se encontram há muitos anos, logo, se há alguém que parte em vantagem nesta eleição são Rangel e Melo, pois imagina-se que tenham muitos louros a apresentar aos portugueses, fruto do árduo trabalho que ambos deverão ter desempenhado na defesa dos interesses de Portugal e da Europa. Os portugueses não esperariam oura coisa destes dois abnegados.
O grande problema de Rangel e Melo é que são eles próprios que matam o seu próprio argumento, já de si muito fraco, como vimos. Note-se que Rangel e Melo consideram que Pedro Marques tem sido um péssimo Ministro, um fala-barato que tem andado pelo país a prometer o que não cumpre e que é o Ministro do desinvestimento. Dizem ainda que é um socrático. Claro, Sócrates também não podia faltar no léxico destes dois.
Ora, se ambos consideram que o Ministro Pedro Marques tem sido o diabo, como podem afirmar que parte em vantagem? O eventual candidato ao Parlamento Europeu, Pedro Marques, só poderá levar alguma vantagem se tiver sido um bom Ministro, certo?
E se assim for, não me parece que haja algo de errado na eventual candidatura de Pedro Marques, ao contrário do aconteceu com a ida de Durão Barroso para a Presidência da Comissão Europeia, que Rangel e Melo tanto enalteceram e aplaudiram de pé. Recordemos que Barroso não foi a votos para chegar ao cargo e, à data, era o Primeiro-ministro de Portugal, por sinal, um péssimo Primeiro-ministro.