Rescaldo das Autárquicas
Todos testemunhámos a algazarra que foi a campanha para as Autárquicas. E, por esta altura, já quase todos se terão apercebido dos principais resultados das eleições de Domingo. Basicamente, sabe-se que o PS teve o maior resultado de sempre em Autárquicas (mais presidentes de câmara e mais presidentes de junta), o PSD teve o pior resultado de sempre, a CDU perdeu algum do seu considerável poder autárquico, o BE teve um resultado moderado e o CDS teve uma “mais que previsível” subida.
Vamos lá aos principais destaques destas eleições autárquicas:
- Nas duas maiores cidades (Lisboa e Porto) parece que venceram as segundas listas mais votadas. Em Lisboa, Assunção Cristas festejou como se tivesse ganho, cerca de 20% dos votos bastaram-lhe para se assumir como a grande vencedora da noite, logo ela que se fartou de afirmar que o objectivo era vencer a Câmara em Lisboa. No Porto, Manuel Pizarro mostrou-se mais eufórico que nunca. Bradou aos ouvidos de quem ainda fez o favor de o ouvir “que o PS foi o partido que mais subiu a votação em relação a 2013”. Há sempre um lado positivo em tudo, não é verdade? Esqueceu-se, ou tentou fazer os outros esquecerem-se que, em 2013, Rui Moreira não teve maioria absoluta (precisando do PS para governar) e agora teve. A grande subida de Manuel Pizarro pouco ou nada lhe valerá, mas ele lá estava todo sorridente, tentando dissipar qualquer dúvida que possa cair sobre a sua liderança na maior distrital do PS.
- Isaltino Morais está de regresso à presidência da Câmara de Oeiras. E isso é crime? É sinal de que a maioria dos eleitores de Oeiras é estúpida? Ou é apenas uma das peculiaridades do sistema democrático?
- Já o major Valentim Loureiro não teve a mesma sorte em Gondomar. Quedou-se pelos 20% de votos, a mesma percentagem que deu uma vitória estrondosa a Cristas em Lisboa. Diga-se que Valentim não conseguiu nem metade dos votos do candidato do PS, Marco Martins, que venceu com maioria absoluta. Os eleitores de Gondomar são mais inteligentes que os de Oeiras? Pode até ser, mas creio que a principal razão da derrota do major foi o facto de Marco Martins ser um recandidato de valor, que dificilmente perderia a presidência da Câmara.
- Narciso Miranda (outro dinossauro) também não teve muita sorte em Matosinhos. Se bem que, ter que escolher entre o socialista “independente” Narciso Miranda e a socialista “oficial” Teresa Salgueiro venha o Passos Coelho e escolha.
- Gaia também merece destaque. O recandidato à Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues conseguiu uma brutal subida de votação face às eleições de 2013, em termos percentuais, só a subida é mais do que a votação de Cristas em Lisboa (e eu a dar-lhe). Note-se ainda que, no concelho de Gaia todas as freguesias são agora socialistas, algo que muita gente não acreditaria que pudesse ser possível, depois de 4 intermináveis mandatos de Menezes (entre 1997 e 2013).
Uma breve referência ainda para Castanheira de Pêra, onde a cantora Ágata era candidata pelo CDS, em segundo lugar na lista à Câmara. Ágata estava convicta de que conseguiria replicar a influência que a sua presença causa à cidade de Chaves, onde reside. E não é que Ágata e o CDS estavam certos em relação ao seu poder de influência. As gentes de Castanheira de Pêra não lhe ficaram indiferentes e presentearam-na com 90 vigorosos votos.
Falta ainda falar em Loures, onde o PSD não conseguiu ir além do 3.º lugar com cerca de 21,5% dos votos. No entanto, André Ventura pediu ao PSD para pôr os olhos em Loures. Realmente, se fosse em Lisboa dava para ficar à frente de Assunção Cristas. Mas… muita atenção à freguesia da Lousa, pode estar ali o tubo de ensaio…
Para terminar, resta-me apenas salientar o facto de muitos órgãos de comunicação social não terem dado muita importância aos resultados eleitorais de 1 de Outubro, parecendo até um pouco confundidos com a falta de autenticidade e ilegalidade do referendo na Catalunha. Até deram a impressão que estas eleições autárquicas não foram a valer. Alguns jornalistas optaram por estar de folga nesta Segunda-feira (onde tanto poderia ser dito/escrito), sendo que outros preferiram destacar o insípido clássico de Alvalade.