Será que viajar de avião vai voltar a ser um luxo?
Tanta gente preocupada com a falta de aeroportos e, afinal, parece que aquilo que vai faltar nos próximos tempos são aviões e lugares disponíveis. Não que eles não existam, mas porque não há pessoal suficiente para garantir o tráfego aéreo necessário.
Primeiro, vieram com as desculpas esfarrapadas de que o cancelamento de voos e as intermináveis filas de espera se devia a condições climatéricas, depois eram alguns problemas técnicos, avarias e até mesmo greves. No caso português, mais concretamente no aeroporto de Lisboa, até chegaram a apontar as culpas para o rebentamento de um pneu de um jacto privado. Enfim.
A verdade é que a principal razão que está a causar o caos na aviação, um pouco por todo o mundo, tem a ver com o facto de não haver pessoal suficiente para garantir o tráfego necessário. E não existe pessoal suficiente porque muitos milhares de funcionários foram despedidos e/ou empurrados para a reforma antecipada no decorrer da pandemia. Como toda a gente ainda se deve recordar, as empresas de aviação e aeroportuárias receberam muitos milhares de milhões de dinheiros públicos durante a pandemia, para fazer face às dificuldades e, sobretudo, para não despedir funcionários. Mas não foi isso que eles fizeram. Eles sacaram o dinheiro e despediram milhares de trabalhadores.
Convinha também lembrar que muitos trabalhadores – sobretudo nos EUA - foram despedidos por não terem aceitado tomar a vacina contra a Covid-19. Agora vêm-nos dizer que há falta de pessoal e que não puderam antecipar que isto iria acontecer. Mas isso faz algum sentido? Então, empresas com os melhores CEOs do mundo – a TAP esperou mais de um ano só para poder contratar uma “estrangeira” muito competente – não foram capazes de antever que com o regresso da “quase normalidade”, o “normal” seria que o fluxo nos aeroportos voltasse aos níveis pré-pandemia? Eu diria mesmo que seria mais do que expectável que o tráfego de viagens aéreas aumentasse para níveis acima dos que se verificaram em 2019.
Quem é que imaginaria que depois de mais de dois anos de confinamentos e isolamentos, as pessoas iriam querer viajar? Toda a gente imaginaria isso, excepto os brilhantes CEOs das companhias aéreas e aeroportos que ensacaram milhões e, ao contrário do que era suposto, trataram de despedir muitos dos seus funcionários.
O que é realmente estranho – e ao mesmo tempo tão previsível – é o facto de a comunicação social estar a reportar este problema de forma enviesada, sem apontar o dedo às verdadeiras razões que estão na sua base.