TAPar o sol com a peneira
Quando se pensava que Passos Coelho estava no fundo do buraco, eis que o próprio resolve demonstrar que é sempre possível afundar um pouco mais. O fundo pode ser sempre mais fundo, há sempre um ralinho que possibilita o escoamento da escória.
A maioria dos portugueses até já tinha esquecido a polémica privatização da TAP feita pelo Governo de Passos Coelho, para lá do tempo de descontos. O actual Governo reverteu essa privatização, sendo que Lacerda Machado (agora nomeado para o Conselho de Administração da transportadora aérea) representou o Estado Português nesse mesmo processo de reversão da entrega da empresa a privados.
Passos Coelho veio agora dizer que “é uma pouca vergonha” Lacerda Machado fazer parte do Conselho de Administração da TAP. Disse que “é uma vergonha para quem nomeia e para quem aceita”, alegando que há um gritante conflito de interesses. Ora, Passos Coelho não poderia recorrer a pior justificação para a sua afirmação. Onde está o conflito de interesses? Lacerda Machado representou o Estado Português no processo de reversão da privatização, e agora foi nomeado, pelo Estado, para o representar no Conselho de Administração da empresa. Onde está o conflito de interesses?
Passos Coelho consegue descortinar conflito de interesses na nomeação de Lacerda Machado, que se mantém no mesmo lado da barricada, quer antes quer no pós-negociação, mas não consegue enxergar, ou então tenta dissuadir o “tremendo” conflito de interesses na nomeação de Miguel Frasquilho para Presidente do Conselho de Administração. Esse, sim, apresenta um enormíssimo conflito de interesses porque, como se sabe, foi um fervoroso apoiante do Governo de Passos Coelho e das suas políticas, com especial enfoque na delapidação do património do Estado, onde se inclui a privatização da TAP. Acrescente-se que Frasquilho não será um mero vogal do Conselho de Administração, será o Presidente. Neste caso sim, faria todo o sentido as declarações de Passos Coelho. A nomeação de Miguel Frasquilho para a Presidência do Conselho de Administração da TAP é uma vergonha, para ele e para quem o nomeou. Algo que só vem demonstrar que os velhos e repugnantes hábitos entre PS e PSD não deixaram de existir. E ainda há quem pretenda criar um novo partido que se encaixe entre estes dois, como se houvesse algum espaço nesta concúbita relação.