Vacinação? Sim, tenho dúvidas…
A vacinação obrigatória voltou à ordem do dia. Desta vez porque apareceram pouco mais de duas dezenas de casos de sarampo em Portugal, a que a DGS (Direcção Geral de Saúde) classificou como surto. Em 2014 ocorreram cerca de 400 casos de Legionella em Portugal e morreram 12 pessoas. Nessa altura, a DGS dizia que não havia razão para alarmismos e até demonstrou alguma relutância em chamar-lhe surto. Já este ano, foram detectados pelo menos 10 novos casos de Legionella e a DGS disse que não havia razão para alarme e que não havia necessidade de alterar comportamentos. Esta dualidade de critérios deixa qualquer pessoa minimamente apreensiva em relação à postura das autoridades de saúde nos diferentes casos. Se calhar, se houvesse por aí uma vacina contra a Legionella, a DGS actuaria de forma mais alarmista e pregaria a necessidade urgente de vacinação.
Bom, antes de avançar mais, gostaria de deixar bem claro que nem sou cegamente a favor da vacinação, nem sou absolutamente contra. Aliás, não consigo compreender como alguém pode defender acerrimamente um dos lados. Vejo por aí muita gente dona da verdade, mas da qual não sabem nada ou, na melhor das hipóteses, sabem muito pouco. O que posso afirmar é que tenho dúvidas em relação a este assunto. E por isso, custa-me muito mais aceitar a posição daqueles que defendem a obrigatoriedade da vacinação do que a dos que não se querem vacinar (ou aos seus).
Parece-me normal que muitas pessoas tenham dúvidas em relação às vacinas, desde logo, porque a informação sobre os potenciais efeitos secundários que podem ocorrer ao longo da vida é escassa. A mim, o que me assusta são aquelas pessoas que por aí proferem juízos de valor sobre aqueles que não querem vacinar-se e/ou vacinar os seus filhos. Assusta-me ver pessoas que aceitam as coisas só porque sim e que as defendem cegamente, como se fossem donas do conhecimento. É gente perigosa. Já vi por aí muitos a proferir impropérios aos que pensam de maneira diferente, como se fossem os senhores da verdade. Como se tivessem a garantia absoluta de que a vacinação é “sempre” melhor que a não vacinação. E como se a comunidade científica fosse uma entidade suprema, isenta de falhas. De facto, através da experiência temporal (e não pela sumidade de um qualquer cientista iluminado) verifica-se que as vacinas têm-se mostrado eficazes (mas faltam dados sobre o nível de eficácia, que não é de 100%) contras as doenças para as quais se destinam. Mas, falta a garantia de que a vacinação não causa efeitos secundários graves no organismo. Com os efeitos secundários ligeiros, que costumam manifestar-se logo após o acto de vacinar todos podemos bem, resta saber quantos de nós sofreu, sofre ou ainda vai ser vítima de danos gravíssimos no seu estado de saúde decorrentes da vacinação. As séries temporais de dados também demonstram que existe paralelismo entre o aumento da vacinação e o aumento de casos, a médio e longo prazos, de doenças neurológicas e, em especial, de doenças auto-imunes. É um facto que também não pode ser ignorado.
Ainda continuam a achar que a vacinação não oferece dúvidas e que deve ser obrigatória? No dia em que um de vocês ou um ente querido vosso vá parar subitamente a uma cama de hospital completamente paralisado, sem causa que o justifique e em que a única explicação científica que vão ouvir é “ trata-se de uma situação do foro neurológico”, “é auto-imune” ou “é idiopático”, o que na prática significa “não fazemos a mínima ideia de como isto acontece”, eu gostaria que viessem a público mostrar ao mundo os vossos desabafos, as vossas certezas e a vossa total confiança na comunidade científica. Note-se que, alguns destes casos conseguem recuperar total ou parcialmente, porém outros, infelizmente, não conseguem recuperar. Não quero com isto dizer que devemos ignorar ou desconfiar de tudo o que vem da comunidade científica, até porque isso seria contrário aos preceitos da vida em sociedade, mas é nossa obrigação procurar respostas concretas para todas as questões que indiscutivelmente suscitam dúvidas, como é o caso da vacinação. E esta postura constitui também uma forma de responsabilizar a comunidade científica e, em última análise a própria sociedade, tal como deveria acontecer em todas as áreas.
Mas os iluminados comentadores desta nossa debilitada comunicação social certamente que aprofundaram o assunto antes de bitaitar e, portanto, sabem melhor do que ninguém que uma vacina provoca reacções no organismo, sendo que a principal é fazer com que o sistema imunitário de um indivíduo produza anticorpos, com o objectivo de o proteger de uma ou mais doenças. Se tivessem aprofundado mais um pouco, também saberiam que não é possível garantir (com 100% de certeza) que uma determinada vacina vai desencadear “apenas” a produção dos anticorpos desejados com a sensibilidade e especificidade desejadas. Se ainda tivessem paciência para ir mais fundo, também descobririam que não é possível garantir (com 100% de certeza) que uma vacina não vai produzir outro tipo de anticorpos (ao longo da vida) que não sejam “apenas” aqueles a que se destina. Tal como referi atrás, são cada vez mais os casos de doenças neurológicas e auto-imunes, facto que não se pode dissociar (a 100%) do aumento de vacinação da população. Ora, sendo sabido que muitas destas doenças são provocadas por reacções anómalas do sistema imunitário e/ou devido à presença de determinados anticorpos (também eles anómalos) no organismo, quem pode garantir que uma coisa não está relacionada com a outra? Ou, pondo a questão noutro prisma, quem não se sente impelido a ter pelo menos uma duvidazinha em relação a isto?
Esperem que uma destas avassaladoras doenças vos atinja e milhões de dúvidas aparecerão de imediato, já que não há nada como sentir as coisas na pele. Eu julgava que as pessoas tinham a capacidade de se colocar na pele dos outros e sentir os problemas delas como se fossem seus, mas não.
Voltemos ao sarampo. Dizem agora (dados das autoridades de saúde) que a vacinação contra o sarampo começou na década de 70 e que fazia parte do PNV. Estranho! Nasci nessa década, fui vacinado contra outras doenças, mas nunca contra o sarampo e, já na década de 80 tive a doença. Tive eu, os meus irmãos, os meus primos, quase todos os meus colegas da escola e praticamente todas as pessoas que eu conheço e que nasceram na década de 70. E olhem que são muitas. Ninguém morreu e/ou teve qualquer complicação grave. É, por isso, legítimo que qualquer um de nós tenha dúvidas sobre a necessidade de tomar esta vacina, por exemplo.
Em relação à jovem que faleceu e que estava com sarampo, não sabemos as verdadeiras circunstâncias do caso, pelo que é no mínimo ignóbil que alguém venha a público alegar o que quer que seja servindo-se dessa situação para defender o seu ponto de vista. Trata-se de um caso isolado que devemos lamentar e não manipular.
Outra situação que me espanta nos aferroados defensores da vacinação é que não me recordo de os ver por aí a exigir a vacinação contra a gripe, por exemplo, que é uma doença bem mais mortal que o sarampo, que não está erradicada (longe disso) e que ataca “fortemente” todos os anos e por longos períodos, levando milhares ao internamento hospitalar e centenas, senão mesmo milhares à morte. Então, não deveria também fazer parte do Plano Nacional de Vacinação (PNV)? E ser obrigatória? Não me venham dizer que a vacina já está disponível para toda a população idosa e pessoas imunodeprimidas ou com outras complicações, porque isso não basta. Primeiro, porque as mortes por gripe não ocorrem só nestes grupos (apesar de representarem a esmagadora maioria dos casos, mesmo estando vacinados), segundo, porque é a população mais jovem e saudável que mais transmite e propaga o vírus da gripe. Não será muito difícil concluir que muitos daqueles que acabam por falecer com o vírus da gripe tenham sido infectados por pessoas “saudáveis” e que não estavam vacinadas. Então, já começa a ponderar (mesmo que levemente, só levemente) colocar algumas dúvidas sobre a vacinação? Ou vai sair já para a rua a exigir também a vacinação obrigatória contra a gripe? E estou só a comparar com a gripe, existem outras doenças para as quais existe vacina e que estão fora do PNV. Imaginem como seria se tivéssemos que tomar todas as vacinas disponíveis no mercado. Seria o sonho dos laboratórios que as fabricam. É verdade, ainda não falei na promiscuidade entre as gigantes farmacêuticas, as autoridades de saúde, a própria OMS e, claro, como sempre, os decisores políticos. Mas isso vai ficar para outra altura, senão ainda me vão acusar de acreditar em teorias da conspiração e não é disso que se trata. Eu sou apenas alguém com mais dúvidas que certezas.
O que me incomoda mais neste circo é constatar a quantidade de gente (sobretudo comentadores genuinamente estúpidos e cheios de si) que adora ser moldada e de moldar. Como são repetitivos, limitados e, simultaneamente tão cheios de certezas. Alguns até dão a sensação que são comissionistas, mas logo se verifica que se trata apenas de pura imbecilidade.
Infelizmente observa-se este fenómeno diariamente e nos mais diversos assuntos que afectam a sociedade. Ilustres ninguéns que estão sempre cheios de certezas mas que se limitam a aceitar e corroborar o que se lhes põe à frente, resvalando sempre na superficialidade das coisas.